Uma série de etapas antecedem a doação efetiva de órgãos. Para o coordenador da Central Estadual de Transplantes, Rafael Rosa, a confirmação de morte encefálica do paciente precisa ser considerado o primeiro passo do processo.
– O processo de diagnóstico de morte cerebral é muito seguro, um dos mais rigorosos do mundo. Ele é composto por dois testes clínicos, feitos por dois médicos diferentes e capacitados, e um exame cerebral, que irá comprovar que não tem mais fluxo ou atividade elétrica e a morte desta pessoa – afirma.
Conforme Rosa, o traumatismo craniano, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e a parada cardiorrespiratória revertida são algumas das causas mais frequentes de morte encefálica, quando ocorre agravamento do quadro. Só após a confirmação do diagnóstico, os médicos conversam com os familiares sobre a possibilidade de doação de órgãos, cabendo apenas a eles autorizar ou não a captação.
Conforme dados da Central Estadual de Transplantes, de janeiro a maio de 2022, uma das maiores causas de não efetivação da doação de órgãos em notificações de morte encefálica no Estado é a negativa da família, seguida de contraindicação médica.
Legalmente, são pessoas com parentesco até segundo grau que participam desta decisão, ou seja, pai, mãe, avô, avó, netos, irmãos, cônjuge ou parceiro com união estável comprovada. Rosa argumenta que, entre motivos para a negativa familiar, está o fato do familiar não saber se o ente querido era doador:
– Uma das causas principais de recusa na doação é não saber se a pessoa que aconteceu a fatalidade era doadora. Nós não costumamos falar em morte na família ou sobre quando isso vai acontecer. Então, é importante conversar e avisar se é favorável a doação de órgãos, porque se acontecer uma fatalidade, quem irá responder é a família. É ela que irá dar a palavra final e fazer este ato de solidariedade ao autorizar a doação.
Além disso, outro fator considerado pelas famílias para a negativa tem sido a demora na entrega do corpo. Por conta dos testes e exames, a captação de órgão pode variar de 12 a 24 horas para ser realizada por uma equipe capacitada, dependendo da localidade para o qual é necessário o deslocamento. Em casos que o prazo pode ser extrapolado devido a questões climáticas ou logísticas, outras opções são acionadas buscando não prolongar o processo.
– Toda a equipe que faz transplante é habilitada fazer e retirar órgãos. Em Santa Maria, por exemplo, nós temos uma equipe de transplante renal que fica no Hospital Universitário e é credenciada para fazer o transplante renal e também para a retirada de rins. Então, já houve situações em que não podendo a equipe se deslocar até Santa Maria, por questões logísticas ou climáticas, a equipe pode fazer a retirada e envia para cá para fazer as compatibilidades – conclui Rosa, destacando que, para transplantes de rins, ainda há mais dois exames a serem feitos em hospitais de Porto Alegre.
Após o processo de captação dos órgãos, o corpo do doador passa por uma recomposição, sendo encaminhado aos familiares, que poderão velá-lo normalmente. A Central Estadual de Transplantes também fornece a família do doador informações sobre o sexo e a idade dos receptores, bem como entrega uma carta de agradecimento.
Causas de não efetivação da Doação de Órgãos em Notificações de Morte Encefálica no RS em 2022
Negativa familiar – 86Parada cardiorrespiratória – 8Contraindicação médica – 55Diagnóstico de morte encefálica não confirmado – 25Outros – 1Total – 175
Veja a lista de motivos do não consentimento familiar para a Doação de Órgãos no RS em 2022
Não doador em vida – 30Religião – 4Integridade do corpo – 8Demora na entrega do corpo – 18Não entende Morte Encefálica – 2Desconhecer a vontade de doar – 5Familiar contrário à doação – 9Outros – 10
Fonte: Central Estadual de Transplantes
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Foto: Eduardo Ramos (arquivo/Diário)
Compatibilidades são analisadas em lista
Para além das etapas que envolvem o diagnóstico e a autorização da família, para que o processo de doação de órgão cumpra com a finalidade, é preciso criar e registrar uma série de dados laboratoriais, que, em sistema, resultaram em um recorte enxuto de receptores.
– Quando ocorre a doação de órgãos, é realizado uma série de exames para avaliar a viabilidade deste doador e a segurança também do receptor. Avaliar se não há nenhuma contraindicação ou minimizar o risco do transplante para o receptor. Esses exames laboratoriais levam algumas horas para serem feitos. Além desses, são feitos os de chipagem sanguínea e compatibilidade. A partir disso, não havendo contraindicação, inserimos os dados laboratoriais no sistema e geramos uma lista de receptores compatíveis. Ela leva em conta o tempo em lista, idade, a gravidade do paciente, entre outros critérios. Conforme a ordem do receptor, iremos ofertar para a equipe onde ele está e a equipe aceitando irá até o município captar os órgãos – explica Rosa.
Em casos de urgências ou ausência de receptor compatível no Rio Grande do Sul, a Central faz o encaminhamento do órgão a hospitais em outros Estados brasileiros no qual hajam receptores que queiram ser transplantados.
Doação em vida
Na doação inter vivos, o processo é restritivo em número de órgãos que podem ser captados. São eles: rim, medula óssea, se for compatível por meio de aspiração óssea ou coleta de sangue; fígado, apenas uma parte e no máximo 70%. Em casos excepcionais, uma parte do pulmão também pode ser doada em vida. A compatibilidade entre doador e receptor também é um fator considerado, segundo o coordenador da Central Estadual de Transplantes, Rafael Rosa:
– A doação inter vivo acontece quando há um parentesco. Então, este familiar, quando é compatível, pode doar. Isso ocorre em vida e legalmente, em um parentesco até quarto grau. Normalmente é de mãe para filho, de filho para pai. Eles se organizam e é um procedimento eletivo. É verificada a documentação do parentesco, consentimentos, legalidade e então é agendado o transplante – argumenta Rosa.
Pela legislação brasileira, este tipo de doação é autorizada apenas para maiores de 18 anos. A pessoa precisa declarar por escrito a intenção de doar, se tiver parentesco com receptor. Nos casos de não parentesco, é necessário uma autorização judicial. Após a conclusão da documentação, uma série de testes laboratoriais é realizada para confirmar se a pessoa tem condições de doar o órgão em questão.
Neste meio tempo, o receptor permanece na lista de espera do Estado.
Medula Óssea
Ao contrário dos demais órgãos, a doação de medula óssea segue um processo mais simples, sendo possível se cadastrar em qualquer hemocentro do Estado para ser doador voluntário. A Central Estadual de Transplantes acompanha três modalidades: a autóloga, em que as células da medula óssea provêm do próprio receptor transplantado; aparentada, quando a doação é feita por um familiar e não-aparentada. Esta última categoria passou por alterações.
– Este ano houve uma mudança no cadastro de doadores voluntários de medula óssea em que foi reduzida a faixa etária para 18 a 35 anos. É preciso considerar que, às vezes, o doador voluntário de medula fica um tempo esperando até ser um doador compatível. Antes era até 55 anos e, quando chegava nesta idade, a pessoa não podia mais fazer o procedimento de doação – explica o coordenador da Central Estadual de Transplantes, Rafael Rosa.
Todos os voluntários passam por uma avaliação e coleta de sangue, sendo cadastrado posteriormente. A lista de potenciais doadores e receptores de células-tronco hematopoéticas permanece disponível no Registro de doadores de medula óssea (REDOME), instalada pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca).
–Também temos uma fila de espera, uma demanda que sofreu impacto e, agora, estamos retomando. Mas, precisamos muito das pessoas e dessa renovação do cadastro – reitera Rosa.
O transplante de medula óssea é semelhante a uma transfusão de sangue e dura em média duas horas para ser realizada.
Transplantes de Medula Óssea no RS em 2022
Autólogo – 93Aparentado – 29Não-Aparentado – 6Total – 128
Cadastre-se no Hemocentro Regional de Santa Maria
Horário de atendimento para cadastro de doador de medula óssea – De segunda a sexta das 8h às 14h e sempre no terceiro sábado do mês das 8h às 12hEndereço – Alameda Santiago do Chile, 35, Nossa Senhora das DoresFone– (55) 3221.5262 ou 3221.5192E-mail – hemosm-adm@saude.rs.gov.br
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